J. Raul Teixeira

J. Raul Teixeira

 

Há um ano - em junho de 2010 -, o orador espírita José Raul Teixeira esteve em Lavras para fazer palestra e seminário. Sua passagem pela cidade fez parte da programação especial em homenagem aos 90 anos do Centro Espírita Augusto Silva (CEAS), completados em janeiro do ano passado.

Releia a entrevista, publicada na edição nº 44 de "Novos Tempos":

 

Desde 2010 o Espiritismo tem ganhado grande destaque, em especial pelas comemorações do centenário de Chico Xavier e filmes de temática espírita. Como avaliar este momento?

Avaliamos este como qualquer outro momento. O Espiritismo não precisa de datas especiais. Nós estamos cumprindo um dever de fraternidade em homenagear o nosso Chico em seu centenário, como homenagearíamos o nosso Gandhi, como qualquer outro vulto benfeitor da Humanidade. No entanto, o nosso movimento espírita não pode depender de datas importantes para mostrar a sua importância. O Espiritismo deve nos acompanhar no nosso cotidiano. Os centros espíritas não devem e não poderiam esperar que houvesse uma data retumbante para ter maior empenho na divulgação do Espiritismo, conforme Allan Kardec no-lo trouxe. Os centros espíritas, os dirigentes, os trabalhadores espíritas não deveriam esperar nenhuma ocasião deste tipo para atender bem ao ensino espírita nas instituições. Há muita gente pensando como é que vai fazer para receber o público que deverá chegar aos centros espíritas por causa dos filmes, dos congressos, de tudo que aparece em função do centenário de Chico. Ao mesmo tempo em que vemos isso como uma preocupação justa, é lamentável que 153 anos depois do Espiritismo é que se esteja pensando em melhorar a qualidade dos trabalhos do centro espírita. Como nunca é tarde para se fazer o bem, nós aproveitamos isso, mas lamentamos que durante todo esse tempo muita gente tenha ficado desatenta para com a grandeza do Espiritismo.

 

O que deve orientar nossa conduta neste momento de transição para o mundo de regeneração?

Tudo aquilo que nós aprendemos com Jesus e com Allan Kardec. Jesus Cristo nos propôs amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos, sob todas as possibilidades. Ao mesmo tempo que Allan Kardec diz que se reconhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral, pelos esforços que ele faz para dominar as suas más inclinações. Não existe outra coisa a que fazer. Jesus tendo nos dito que é o Caminho, a Verdade e a Vida e que enviaria o Consolador, precisamos seguir os seus ensinamentos e a proposta do Consolador que Ele enviou.

 

Nós sabemos que um dos principais núcleos da sociedade é a família. Quais são seus maiores desafios nos tempos atuais?

O maior desafio da família, segundo afirmam os benfeitores espirituais, é o fato de os seus membros não a encararem com a devida seriedade. A família, para muita gente, se assemelha a um ajuntamento de pessoas que se procuram por algum interesse momentâneo, seja o interesse sexual, seja o econômico, seja o protecional. De qualquer forma, a família deverá representar para todos nós a base da nossa formação social. Como diz o Espírito Emmanuel, a primeira escola que encontramos é o lar. Dessa maneira, lembrando-nos do sociólogo francês Émile Durkheim, a família é a célula básica da sociedade. A partir daí, o que está faltando é que os membros da família assumam o seu papel, a sua responsabilidade nesse grupo tão importante em que o Criador nos situou.

 

Raul Teixeira fala para cerca de 750 pessoas na Cofap - 19/06/2010

 

A Doutrina Espírita pode nos auxiliar na compreensão de temas atuais, como o que trata das células-tronco?

Devidamente. O Espiritismo nos ensina, porque nos fala Allan Kardec, no livro “A Gênese”, que o Espiritismo marcha pari passu com o progresso, mas não se detém onde o progresso científico para. Porque a Ciência, segundo Kardec, estuda os efeitos, enquanto o Espiritismo vai até as causas geradoras desses efeitos. Quando estamos todos vendo a discussão em torno de células-tronco, de células-tronco embrionárias, de supercordas, tudo isto está previsto na pauta de evolução planetária. Têm chegado à Terra Espíritos veneráveis na área da Ciência, da Filosofia, da Ética, da Estética, exatamente para impulsionar a grande massa planetária que é ainda muito inferior, muito limitada, para que nós consigamos galgar os passos para os quais reencarnamos. O Espiritismo nos prepara sempre para que estejamos abertos ao progresso, para que tenhamos a consciência de que o Espiritismo, de fato, carrega em si essas marcas do progresso intelectual e do progresso moral que todos nós precisamos alcançar. O Espiritismo é uma doutrina que não nos deixa acomodar, está sempre nos impulsionando para o progresso, é a doutrina religiosa que mais nos ensina a aprender. Não deseja que nos mantenhamos na ignorância, não lucra com a nossa ignorância. Pelo contrário, não é uma doutrina de um livro só. Não temos que ler apenas “O Livro dos Espíritos”, mas tudo aquilo que Kardec nos deixou, tudo aquilo que ajude na nossa cultura, conforme lembrou o apóstolo Paulo: ler de tudo para reter o bem. Mas nós que somos espíritas deveremos ter o cuidado de nos aprofundar sempre mais no pensamento espírita para que de fato possamos valorizar o Espiritismo. Ninguém vestirá a camisa do Espiritismo sem o conhecer. Ninguém viverá sua proposta sem tomar dela profundo conhecimento. Os progressos todos que hão chegado à Terra estão sob a orientação de Jesus de Nazaré. Cabe ao Espiritismo nos preparar para recebê-la.

 

Qual a importância do Evangelho para os dias de hoje?

O Evangelho é o ensinamento de Jesus Cristo. Ele não tem importância para nós no dia de hoje. Ele tem importância em todos os dias de nossa vida, razão pela qual dissemos que Jesus Cristo nos lembrou que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se levarmos isso a sério, o Evangelho é o nosso roteiro, é a carta para que não nos percamos nesses labirintos, nesses caminhos tão difíceis da Humanidade terrestre.

 

Qual mensagem o Sr. pode deixar para os leitores de Novos Tempos?

Queremos dizer aos nossos irmãos leitores de Novos Tempos que esses são dias muito felizes para nós, porque estamos acompanhando na Terra toda essa onda de violência, de drogadição, de prostituição dos costumes, de prostituição sexual, de corrupção. No entanto, ao mesmo tempo, estamos tendo a oportunidade de ter o conhecimento do Consolador, que viria para ficar conosco até o final dos tempos; que viria reforçar aquilo que Jesus Cristo nos ensinou; e dizer aquilo que Ele não pôde à época nos revelar, de modo que vale a pena nós apostarmos no amor e no bem. Apelarmos para essas forças notáveis da vida e, trabalhando junto ao amor e ao bem, nos abraçarmos fraternalmente na certeza de que passamos tão pouco tempo na Terra que não deveria haver espaço para querelas, para dissensões, para inimizades. Só o amor, de fato, constrói para toda a eternidade.