Um ou outro - Yvonne A. Pereira

Ao homem que devotamente desejar seguir as pagadas de Jesus Cristo é mister olvidar e até desprezar todas as seduções que a terra possa oferecer.

Coisa idêntica cabe dizer-se àquele que sinceramente deseja tornar-se espírita, visto que praticar fielmente o Espiritismo é caminhar na estrada que Jesus traçou.

Não quer isso dizer, contudo, que os espíritas devam tornar-se ascetas ou egoisticamente se isolarem do mundo para fugir-lhe as tentações. Ao contrário, em tal atitude não haveria mérito, pois, uma pessoa que se isola de quaisquer tentações não teria consciência se seria ou não virtuosa, uma vez que ocasião não houve para demonstrar sua força de resistência em face das seduções.

Ao espírita cabe seguir Jesus sem pensamentos de pesar pelas riquezas da terra, - de que não deve cogitar, - sem saudades das grandezas sociais que o assediaram infiltrando-lhe vaidades, e ainda sem a propasia malsã que o preconceito tanto avoluma em seu coração.

Quantas pessoas existem, infelizmente, que, apreciando o valor moral do Espiritismo temem, no entanto, segui-lo e praticá-lo, receosos do desinteresse que ele aconselha, da abnegação que ensina e do desprendimento que lhe é consequencial. Essas tais podem bem ser comparadas ao moço de qualidade que, guardando, embora, os mandamentos, perguntara a Jesus que mais deveria fazer para ganhar o Reino do Céu, ao que Jesus lhe respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e da aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (Mateus, XIX, 16 e 24; Lucas, XVIII, 28 a 25; Marcos, X, 17 a 25).

Mas o moço, porque possuísse muitos bens, preferiu não seguir o Mestre, pois era por demais agarrado as suas próprias riquezas para resignar-se a perdê-las.

Ser-se espírita e conservar-se o amor pelo ouro, pelas grandezas, pelo luxo e pelas ostentação, é um vero contrasenso.

O Espiritismo, pelas suas doçuras e suas lições de fraternidade, é incompatível com toda essa série de preocupações subalternas. Servindo-o e seguindo-o, o homem precisará tornar-se abnegado e desinteressado, ou não será espírita.

Ninguém poderá servir a dois senhores, porque ou há de ter aborrecimentos a um e amor ao outro, ou há de entregar-se a um e não fazer caso do outro, Vós não podeis servir a Deus e às riquezas”. (Lucas, XVI, 13).

Os conselhos são por demais claros nas páginas incorruptas dos Evangelhos: - ou seguir-se-á o caminho da Perfeição pelo desinteresse e pela caridade, desprezando as grandezas do mundo; ou conservar-se-á o amor a estas ficando a alma em prejuízo de causa na vida futura.

Que não se iludam, portanto, os neófitos do Espiritismo julgando que ao se filiarem a este poderão continuar cultivando as paixões terrenas.

Não! Precisarão, ao contrário, elevar sempre mais o seu pensamento e suas aspirações em busca dos ideais divinos, ao passo que deverão, uma vez para sempre, esquecer os tesouros da terra, perecíveis e geradores de crimes e que para nada aproveitam a felicidade do espírito.

Onde está o vosso tesouro, aí estará também vosso coração”. (Lucas, XII – 34).

 

Yvonee A. Pereira - extraído do jornal "Luz e Verdade", de 16/08/1928, editado pelo Centro Espírita de Lavras na década de 1920